Uma mesa redonda realizada no Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (IHG-DF), na noite de quinta-feira (7/12), debateu as origens históricas da questão da Guiana Essequiba. Atualmente, a região é alvo de tensão entre a Venezuela e a Guiana. A mesa redonda foi coordenada pelo acadêmico José Theodoro Mascarenhas Menck.

Sob o tema “o Litígio do Rio Pirara e as Origens Históricas da Questão da Guiana Essequiba”, o encontro trouxe reflexões sobre as disputas ao longo dos séculos pela região.

José Theodoro explicou que a área já envolveu reivindicações entre a Espanha, Inglaterra, Brasil, Venezuela e os Estados Unidos. “Era uma região abandonada na América do Sul, digamos assim. Mas é uma região que foi mudando muito de propriedade ao longo dos séculos”, disse.

“Com as guerras de Napoleão Bonaparte, a Espanha é ocupada e essas terras também são ocupadas pelos ingleses”, completou o acadêmico.

Ele destacou que ao longo da história ocorreram julgamentos em tribunais arbitrais para definir a posse da região. “Essa questão foi levada à época, a uma arbitragem internacional. O governo inglês chegou a oferecer o território completo ao Brasil desde que o Brasil renovasse o tratado e não escravizasse os índios”, disse.

“O primeiro tribunal arbitral foi feito entre a Venezuela e a Guiana pelo Tribunal Arbitral de Paris. Os venezuelanos cortam relações com a Inglaterra. E a Inglaterra simplesmente não iria dar bola, até que os EUA forçam os ingleses a entrar no tribunal arbitral”, destacou.

“A decisão favoreceu plenamente a Guiana. A divisão foi feita pela divisão de águas, que era uma divisão muito comum. Se as águas corriam para um lado, era um país, se corria para o outro, era outro país”, ressaltou José Theodoro.

Educação

O acadêmico Argemiro Procópio Filho, sociólogo, que também participou da mesa redonda, destacou que ficou impressionado com a disciplina e desenvolvimento das crianças da Guiana nas escolas.

“A disciplina nas escolas da Guiana é simplesmente invejável. Visitei escolas primárias da Guiana. Os meninos descalços, pobres, mas se coloca uma criança da Guiana ao lado de uma do Brasil, as crianças da Guiana conhecem mais a geografia do Brasil que as crianças brasileiras. A Guiana foi uma exportadora de cérebro”, afirmou Procópio.

O sociólogo completou destacando que a população da Guiana tem ligação histórica com o Brasil. “A Guiana está esquecida. Parte da população da Guiana tem duas origens aqui no Brasil. Foram os escravos que os holandeses levaram”, afirmou.

O acadêmico Antônio Flávio Testa, cientista político, ressaltou que, neste momento, o risco de conflito bélico envolvendo a Venezuela, Guiana e os Estados Unidos, é baixo.

“É uma guerra diplomática, por enquanto. Provavelmente, vai haver uma conflagração. Algum conflito armado. Mas não vejo essa possibilidade neste momento. Mas temos que ver que é uma situação imprevisível. Eu vejo que é basicamente uma questão de suficiência energética”, disse.

Ele ressaltou que o Brasil tem fronteira relevante com ambos os países. “Essa guerra não chegou ainda com essa força toda. O Brasil tem mil quilômetros de fronteira com a Venezuela e mil quilômetros de fronteira com a Guiana. Na fronteira do Brasil com a Venezuela tem um intercâmbio imenso de comércio. A cada 4 crianças que nascem em Boa Vista, uma tem família da Venezuela. E são crianças brasileiras, famílias que não vão voltar pra lá”, ressaltou.

Testa afirmou, também, que o conflito ocorre em razão das riquezas naturais presentes na região. “Foi descoberta uma reserva de petróleo que hoje é a maior da Terra. Petróleo, fora ouro, níquel e manganês. O Maduro já nomeou um governador, um general. Já está dando concessões. A PDVSA foi autorizada pelo Maduro para fazer análises das concessões de petróleo daquela região”, completou o acadêmico.

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